A agonia que me dá ao ver o estado de idiotice que a educação tomou...
texto não é meu ! mas peço licença para publica-lo e alcançar mais pessoas... e quem sabe ....
Foi  uma tragédia fartamente anunciada. Em milhares de casos, desrespeito.  Em outros tantos, escárnio. Em Belo Horizonte, um estudante processa a  escola e o professor que lhe deu notas baixas, alegando que teve danos  morais ao ter que virar noites estudando para a prova subsequente.  (Notem bem: o alegado “dano moral” do estudante foi ter que...  estudar!).
A  coisa não fica apenas por aí. Pelo Brasil afora, ameaças constantes.  Ainda neste ano, uma professora brutalmente espancada por um aluno. O  ápice desta escalada macabra não poderia ser outro.
O  professor Kássio Vinícius Castro Gomes pagou com sua vida, com seu  futuro, com o futuro de sua esposa e filhas, com as lágrimas eternas de  sua mãe, pela irresponsabilidade que há muito vem tomando conta dos  ambientes escolares.
Há  uma lógica perversa por trás dessa asquerosa escalada. A promoção do  desrespeito aos valores, ao bom senso, às regras de bem viver e à  autoridade foi elevada a método de ensino e imperativo de  convivência  supostamente democrática.
No  início, foi o maio de 68, em Paris: gritava-se nas ruas que “era  proibido proibir”. Depois, a geração do “não bate, que traumatiza”. A  coisa continuou: “Não reprove, que atrapalha”. Não dê provas difíceis,  pois “temos que respeitar o perfil dos nossos alunos”. Aliás, “prova não  prova nada”. Deixe o aluno “construir seu conhecimento.” Não vamos  avaliar o aluno. Pensando bem, “é o aluno que vai avaliar o professor”.  Afinal de contas, ele está pagando...
E  como a estupidez humana não tem limite, a avacalhação geral epidêmica,  travestida de “novo paradigma” (Irc!), prosseguiu a todo vapor, em  vários setores: “o bandido é vítima da sociedade”, “temos que mudar  ‘tudo isso que está aí’; “mais importante que ter conhecimento é ser  ‘crítico’.”
Claro  que a intelectualidade rasa de pedagogos de panfleto e burocratas  carreiristas ganhou um imenso impulso com a mercantilização desabrida do  ensino: agora, o discurso anti-disciplina é anabolizado pela lógica  doentia e desonesta da paparicação ao aluno – cliente...
Estamos  criando gerações em que uma parcela considerável de nossos cidadãos é  composta de adultos mimados, despreparados para os problemas, decepções e  desafios da vida, incapazes de lidar com conflitos e, pior, dotados de  uma delirante certeza de que “o mundo lhes deve algo”.
 Um  desses jovens, revoltado com suas notas baixas, cravou uma faca com  dezoito centímetros de lâmina, bem no coração de um professor. Tirou-lhe  tudo o que tinha e tudo o que poderia vir a ter, sentir, amar.
 Ao  assassino, corretamente , deverão ser concedidos todos os direitos que a  lei prevê: o direito ao tratamento humano, o direito à ampla defesa, o  direito de não ser condenado em pena maior do que a prevista em lei.  Tudo isso, e muito mais, fará parte do devido processo legal, que se  iniciará com a denúncia, a ser apresentada pelo Ministério Público. A  acusação penal ao autor do homicídio covarde virá do promotor de  justiça. Mas, com a licença devida ao célebre texto de Emile Zola, EU  ACUSO tantos outros que estão por trás do cabo da faca:
 EU ACUSO a pedagogia ideologizada, que pretende relativizar tudo e todos, equiparando certo ao errado e vice-versa;
 EU  ACUSO os pseudo-intelectuais de panfleto, que romantizam a “revolta dos  oprimidos”e justificam a violência por parte daqueles que se sentem  vítimas;
 EU  ACUSO os burocratas da educação e suas cartilhas do politicamente  correto, que impedem a escola de constar faltas graves no histórico  escolar, mesmo de alunos criminosos, deixando-os livres para tumultuar e  cometer crimes em outras escolas;
 EU  ACUSO a hipocrisia de exigir professores com mestrado e doutorado,  muitos dos quais, no dia a dia, serão pressionados a dar provas bem  tranqüilas, provas de mentirinha, para “adequar a avaliação ao perfil  dos alunos”;
 EU  ACUSO os últimos tantos Ministros da Educação, que em nome de  estatísticas hipócritas e interesses privados, permitiram a proliferação  de cursos superiores completamente sem condições, freqüentados por  alunos igualmente sem condições de ali estar;
 EU  ACUSO a mercantilização cretina do ensino, a venda de diplomas e  títulos sem o mínimo de interesse e de responsabilidade com o conteúdo e  formação dos alunos, bem como de suas futuras missões na sociedade;
 EU  ACUSO a lógica doentia e hipócrita do aluno-cliente, cada vez menos  exigido e cada vez mais paparicado e enganado, o qual, finge que não  sabe que, para a escola que lhe paparica, seu boleto hoje vale muito  mais do que seu sucesso e sua felicidade amanhã;
 EU  ACUSO a hipocrisia das escolas que jamais reprovam seus alunos, as  quais formam analfabetos funcionais só para maquiar estatísticas do IDH e  dizer ao mundo que o número de alunos com segundo grau completo cresceu  “tantos por cento”;
 EU  ACUSO os que aplaudem tais escolas e ainda trabalham pela massificação  do ensino superior, sem entender que o aluno que ali chega deve ter o  mínimo de preparo civilizacional, intelectual e moral, pois estamos  chegando ao tempo no qual o aluno “terá direito” de se tornar médico ou  advogado sem sequer saber escrever, tudo para o desespero de seus  futuros clientes-cobaia;
 EU  ACUSO os que agora falam em promover um “novo paradigma”, uma “ nova  cultura de paz”, pois o que se deve promover é a boa e VELHA cultura da  “vergonha na cara”, do respeito às normas, à autoridade e  do respeito  ao ambiente universitário como um ambiente de busca do conhecimento;
 EU ACUSO os  “cabeça – boa” que acham e ensinam que disciplina é “careta”, que respeito às normas é coisa de velho decrépito,
 EU  ACUSO os métodos de avaliação de professores, que se tornaram templos  de vendilhões, nos quais votos são comprados e vendidos em troca de  piadinhas, sorrisos e notas fáceis;
 EU  ACUSO os alunos que protestam contra a impunidade dos políticos, mas  gabam-se de colar nas provas, assim como ACUSO os professores que, vendo  tais alunos colarem, não têm coragem de aplicar a devida punição.
 EU  VEEMENTEMENTE ACUSO os diretores e coordenadores que impedem os  professores de punir os alunos que colam, ou pretendem que os  professores sejam “promoters” de seus cursos;
 EU  ACUSO os diretores e coordenadores que toleram condutas desrespeitosas  de alunos contra professores e funcionários, pois sua omissão quanto aos  pequenos incidentes é diretamente responsável pela ocorrência dos  incidentes maiores;
Uma  multidão de filhos tiranos que se tornam alunos -clientes, serão  despejados na vida como adultos eternamente infantilizados e totalmente  despreparados, tanto tecnicamente para o exercício da profissão, quanto  pessoalmente para os conflitos, desafios e decepções do dia a dia.
Ensimesmados em seus delírios de perseguição ou de grandeza, estes jovens mostram cada vez menos preparo na delicada e essencial arte que é lidar com aquele ser complexo e imprevisível que podemos chamar de “o outro”.
A infantilização eterna cria a seguinte e horrenda lógica, hoje na cabeça de muitas crianças em corpo de adulto: “Se  eu tiro nota baixa, a culpa é do professor. Se não tenho dinheiro, a  culpa é do patrão. Se me drogo, a culpa é dos meus pais. Se furto,  roubo, mato, a culpa é do sistema. Eu, sou apenas uma vítima. Uma eterna  vítima. O opressor é você, que trabalha, paga suas contas em dia e vive  sua vida. Minhas coisas não saíram como eu queria.  Estou com muita raiva. Quando eu era criança, eu batia os pés no chão.  Mas agora, fisicamente, eu cresci. Portanto, você pode ser o próximo.”
Qualquer  um de nós pode ser o próximo, por qualquer motivo. Em qualquer lugar,  dentro ou fora das escolas. A facada ignóbil no professor Kássio dói no  peito de todos nós. Que a sua morte não seja em vão. É  hora de repensarmos a educação brasileira e abrirmos mão dos modismos e  invencionices. A melhor “nova cultura de paz” que podemos adotar nas  escolas e universidades é fazermos as pazes com os bons e velhos  conceitos de seriedade, responsabilidade, disciplina e estudo de  verdade.